texto de: O Coxo
15h35
Estou algures em França, cem metros abaixo da superficie.
Há uma claridade indistinta como num sonho. Estou sozinho. Luzinhas piscam num painel à minha frente. E o ruído. Muito ruído. Ah, além disso estão trinta graus (uma avaria na ventilação disseram-me).
Um homem sozinho cem metros debaixo de terra mergulha dentro de si mesmo. Mergulha inevitavelmente dentro de si mesmo. A alma deixa de ser uma barreira intransponível à medida que nos aproximamos do inferno.
(de certeza que há uma porta por aqui)
Começa assim: as luzinhas desatam a piscar no cruzamento de duas artérias, os medos vão crescendo no sangue e saem de mim numa efluência transparente. Há um anjo renegado que sente o odor lá do meio das suas chamas. Uma porta que não existia antes abre-se numa parede e sou convidado a entrar.
Hesito. Entrar numa porta não autorizada é uma falta profissional. Tudo uma questão de acessos. Verifico o meu cartão:
"acesso tunel, acesso galerias, acesso experiências".
Nada sobre portas inexistentes que conduzem
portas inexistentes que conduzem
Porra, entro na mesma, entro na mesma que se lixe.
Quando um homem mergulha dentro de si mesmo não pode hesitar: mergulha-se o mais rápido possível para não ficarmos presos nas entranhas. Se queremos chegar à alma há que colocar todo o peso da solidão em cima de nós para descer mais rápido.
Entretanto há um erro de leitura de corrente: "erro de leitura de corrente - teste interrompido".
Deve ser grave: as luzinhas deixaram de piscar.
Friday, 18 January 2008
Underground dream
Posted by O Coxo at 18:47
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