Sunday 17 April 2016

aos remotos de todos os Tibetes

Se considero com atenção a vida que os homens vivem, nada encontro nela que a diference da vida que vivem os animais. Uns e outros são lançados inconscientemente através das coisas e do mundo; uns e outros se entretêm com intervalos; uns e outros percorrem diariamente o mesmo percurso orgânico; uns e outros não pensam para além do que pensam, nem vivem para além do que vivem. (...)

Estas considerações, que em mim são frequentes levam-me a uma admiração súbita (...) aos místicos e aos ascetas - aos remotos de todos os Tibetes (...). Estes, ainda que no absurdo, tentam, de facto, libertar-se da lei animal. Estes, ainda que na loucura, tentam, de facto, negar a lei da vida, o espojar-se ao sol e o aguardar da morte sem pensar nela. Buscam, ainda que parados no alto de uma coluna; anseiam, ainda que numa cela sem luz; querem o que não conhecem, ainda que no martírio dado e na mágoa imposta.

Nós outros todos, que vivemos como animais com mais ou menos complexidade, atravessamos o palco como figurantes que não falam, vaidosos da solenidade do trajecto. (...) Os outros - os místicos da má hora e do sacríficio - sentem ao menos, com o corpo e o quotidiano, a presença mágica do mistério. São libertos, porque negam o sol visível; são plenos, porque se esvaziaram do vácuo do mundo.

(Bernardo Soares, in "O livro do Desassossego")

Saturday 16 April 2016

Steps festival


As part of the Steps Dance Festival, happening in the major Swiss cities from 7.4.2016 - 1.5.2016, Aakash Odedra presented Rising, a performance comprising four different pieces where Aakash adopts different moods, including elements of Kathak, an indian classical dance, in the first piece, changing into more visceral movements in the second and finishing with a more mystical set. Strongly recommended. A trailer below.

Saturday 2 April 2016

Fou à lier




FOU À LIER (Feu! Chatterton)

J’y pense tout le temps
Et pour que ça passe, ça passe
Je m’automédique
J’avale, j’avale
Des ecstas merdiques
Et je me dis que
Ça va

Et quand tout fout le camp
Je prends la poudre d’escampette
Qu’à mes tempes mon pouls ralentisse
Que les voix se taisent
Après la tempête
Je flotte dessus mes hantises

Dessus la peur d’être fou
À lier
Marteau comme ici les requins
Que j’ai dans la coloquinte
Au fond du bocal
Fêlé

Ouais je crains de finir fou
À lier
Marteau comme ici les requins !
Sont-ce des vaisseaux low cost
Pour des cieux tropicaux ?

Pastilles multicolores
Pour que les Dieux décolèrent…
Dans la discothèque
Poussent des palmiers que les
Crocodiles accostent
Descendons en parachute
Dans cet infini paradis !

La pensée a ses terres
Pas vues des radars satellitaires
Cette île est-elle ici réelle
Abandonnée ?
Ou bien dans ma tête
Récif peuplé de sirènes

Qui disent que je suis fou
À lier
Marteau comme ici les requins
Que j’ai dans la coloquinte
Un tout petit grain
Caféiné

Elles disent que je suis fou
À lier
Marteau comme ici les requins !
Sont-ce des tickets low cost
Pour des cieux tropicaux ?

Oh oh mais où suis-je ?
Et qui sont tous ces gens
Qui enfilent des perles aux cous
D’autres va-nu-pieds ?

Vite, je courtise
Les filles des locaux
Enfile des perles au cou
D’autres vahinés !

Ooooh ! Vite, je courtise
Les filles des locaux
Enfile des perles au cou
De toutes ces vahinés…