Thursday, 31 January 2008
Wednesday, 30 January 2008
Coitado do Álvaro de Campos
Excerto de poema de Álvaro de Campos
Que bom poder-me revoltar num comício dentro da minha alma !
Mas até nem parvo sou !
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não me queiram converter a convicção: sou lúcido.
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda ! Sou lúcido.
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Monday, 28 January 2008
Os Nomes
Eugénio de Andrade em "Os sulcos da Sede"
Há um tempo em que damos estranhos
nomes às coisas.
Por exemplo, fulgor; por exemplo,
mundo; por exemplo, desejo.
Nomes novos, como na infância
a neve.
Um dia acordas, tens treze,
catorze anos, descobres que estás nú
e tens ao lado outro corpo
também despido e menos inocente.
Ao teu ouvido, conivente com a luz
matinal das laranjeiras,
chega um rumor de sílabas roucas
húmidas de desejo.
Como noutros dias, de ramo em ramo,
a neve.
Posted by O Coxo at 22:15 0 comments
Wednesday, 23 January 2008
Black Movie Festival
A success on the rise, the Black movie festival in Geneva has just published its programme for 2008. The festival takes place in Grutli, Spoutnik, Bio and Scala cinemas in Geneva, from the 1-10 of February. In these 10 days, you will have the opportunity to get to know emergent and confirmed talents from the cinema in Asia, Africa and Latin America.
Check the website for details on the programme:
http://www.blackmovie.ch/
Posted by O Coxo at 00:03 0 comments
Tuesday, 22 January 2008
Sweeney Todd
Stephen Sondheim est un des grands auteurs compositeur de comédie musicale encore vivant. Le personnage de Sweeney Todd est inspiré d’un fait divers ayant eu lieu en 1784. Un barbier aurait tué environ 160 personnes, avant d’être pendu.
L’interprétation des personnages est tenue par l’Opéra de Poche, actif depuis seize ans. Philippe Cantor interprète avec charisme le barbier Sweeney Todd. Une comédie musicale, pleine de noirceur…
Posted by O Coxo at 23:42 0 comments
Sunday, 20 January 2008
A vida fictícia
Excertos do livro "Húmus" de Raul Brandão
As paixões dormem, o riso postiço criou cama, as mãos habituaram-se a fazer todos os dias os mesmos gestos. A mesma teia pegajosa envolve e neutraliza, e só um ruído sobreleva, o da morte que tem diante de si o tempo ilimitado para roer. (...)
Todos os dias dizemos as mesmas palavras, cumprimentamos com o mesmo sorriso e fazemos as mesmas mesuras. Petrificam-se os hábitos lentamente acumulados. O tempo mói: mói a ambição e o fel e torna as figuras grotescas. (...)
A vida é fictícia, as palavras perderam a realidade. E no entanto esta vida fictícia é a única que podemos suportar. Estamos aqui como peixes num aquário. E sentindo que há outra vida ao nosso lado, vamos até à cova sem dar por ela. E não só esta vida monstruosa e grotesca é a única que podemos viver, como é a única que defendemos com desespero. (...)
Estamos aqui todos à espera da morte ! estamos aqui todos à espera da morte ! (...)
Posted by O Coxo at 22:17 0 comments
Friday, 18 January 2008
Underground dream
texto de: O Coxo
15h35
Estou algures em França, cem metros abaixo da superficie.
Há uma claridade indistinta como num sonho. Estou sozinho. Luzinhas piscam num painel à minha frente. E o ruído. Muito ruído. Ah, além disso estão trinta graus (uma avaria na ventilação disseram-me).
Um homem sozinho cem metros debaixo de terra mergulha dentro de si mesmo. Mergulha inevitavelmente dentro de si mesmo. A alma deixa de ser uma barreira intransponível à medida que nos aproximamos do inferno.
(de certeza que há uma porta por aqui)
Começa assim: as luzinhas desatam a piscar no cruzamento de duas artérias, os medos vão crescendo no sangue e saem de mim numa efluência transparente. Há um anjo renegado que sente o odor lá do meio das suas chamas. Uma porta que não existia antes abre-se numa parede e sou convidado a entrar.
Hesito. Entrar numa porta não autorizada é uma falta profissional. Tudo uma questão de acessos. Verifico o meu cartão:
"acesso tunel, acesso galerias, acesso experiências".
Nada sobre portas inexistentes que conduzem
portas inexistentes que conduzem
Porra, entro na mesma, entro na mesma que se lixe.
Quando um homem mergulha dentro de si mesmo não pode hesitar: mergulha-se o mais rápido possível para não ficarmos presos nas entranhas. Se queremos chegar à alma há que colocar todo o peso da solidão em cima de nós para descer mais rápido.
Entretanto há um erro de leitura de corrente: "erro de leitura de corrente - teste interrompido".
Deve ser grave: as luzinhas deixaram de piscar.
Posted by O Coxo at 18:47 0 comments
Thursday, 17 January 2008
L'oiseau du temps
Depois da aquisição do novo album da série de BD "La quête de l'oiseau du temps", o Coxo não pode deixar de recomendar vivamente esta continuação que se refere à época "Avant la Quête".
O argumento é de Le Tendre e de Loisel mas o desenhador desta vez é Mohamed Aouamri que sucede a Lidwine e a Loisel. A passagem de testemunho é perfeita e em nada se fica a perder. A fluidez do traço, a qualidade gráfica, a criatividade dos cenários continuam a marcar esta BD como sendo uma das mais fortes dos últimos anos no género fantástico.
(Crítica do site bdgest mais abaixo)
L'attente entre deux tomes de La quête de l'oiseau du temps est devenue l'un des sujets de discussion les plus animés sur les forums. Supputations effrénées sur le prochain dessinateur, paris sur l'année de publication ou avis les plus farfelus sur de potentielles stratégies commerciales, tout est bon. On patiente comme on peut.
Evidemment, lors de la parution tant attendue, c'est la ruée vers les librairies, l'avide lecture et l'oubli total des rumeurs et des élucubrations. Le cinquième album, ou plutôt le premier d'Avant la quête, avait relancé l'attrait en relatant les prémices de l'histoire des héros de la série mythique de Loisel et Le Tendre. Ce "grimoire des dieux" ne bénéficie pas de cet état de grâce mais il n'en a plus besoin.
Tous les éléments fondateurs de ce qu'a été ou de ce que sera "la" quête, selon la position du lecteur, sont savamment distillés par les auteurs, sans aucun doute heureux de pouvoir créer l'origine de ceux qui feront l'épopée phénoménale que l'on connaît.
Cet album, et l'ensemble du cycle, dispose de l'atout majeur du double niveau de lecture, rendu possible par un scénario de base bien au-dessus de la moyenne actuelle dans le genre de l'héroïc fantasy, et par la chasse aux liens avec la série mère. Une alchimie réjouissante entre le passé et le présent.
( http://www.bdgest.com/critique_2576.html )
Posted by O Coxo at 23:36 0 comments
Tuesday, 15 January 2008
Kusturica & The No Smoking Orchestra
Belgrado, 1980, o movimento punk e new wave surge como alternativa à música rock. A democratização do som levou ao aparecimento de novas bandas, decalques quase perfeitos dos seus ídolos ocidentais. A No Smoking Orchestra em conjunto com outras bandas de Sarajevo desenvolveu um movimento de resposta apelidado new primitives. Em 1986, Emir Kusturica, ex-punk rock e premiado realizador de cinema, decide integrar a banda No Smoking Orchestra, colmatando a saída do baixista.
Emir Kusturica regressa a Portugal para dois concertos únicos inseridos na Tournée de 2008, dia 25 de Janeiro no Coliseu do Porto, e dia 26 de Janeiro no Coliseu de Lisboa. Na bagagem o novo álbum “Time of the Gypsies”, sem esquecer temas como “Unza Unza Time!”, “Bubamara” e “Pitbull Terrier”.
Posted by O Coxo at 20:31 0 comments
Sorpresa
Federico García Lorca em "Poema del Cante Jondo"
Muerto se quedó en la calle
con un puñal en el pecho.
No lo conocía nadie.
¡Como temblaba el farol!
Madre.
¡Como temblaba el farolito
de la calle!
Era madrugada. Nadie
pudo asomarse a sus ojos
abiertos al duro aire.
Que muerto se quedó en la calle
que con un puñal en el pecho
y que no lo conocía nadie.
Posted by O Coxo at 19:36 1 comments
Monday, 14 January 2008
O Estilo
Para o Coxo foi como uma espécie de revelação. Supor que este desconforto rente à pele, o remorso envergonhado que persiste, a auto comiseração, tudo isso resulta da frustração de não ter ainda descoberto um estilo.
Esta obssessão do Coxo em procurar uma unidade de acção, exacerbada pela incapacidade de resistir à sedução do imediato, ao prazer efémero, ao cliché barato, surge-me agora como uma evidência da necessidade absoluta de encontrar esse estilo.
"One thing is needful.— To 'give style' to one's character—a great and rare art! It is practiced by those who survey all the strengths and weaknesses of their nature and then fit them into an artistic plan until every one of them appears as art and reason and even weaknesses delight the eye. "
Nietzsche, "The Gay Science"
Curiosamente o tema é igualmente explorado num texto de Herberto Helder, que já anteriormente transcrevi:
"Há felizmente o estilo. Não calcula o que seja? Vejamos: o estilo é um modo subtil de transferir a confusão e violência da vida para o plano mental de uma unidade de significação. Faço-me entender? Não? Bem, não aguentamos a desordem estuporada da vida. E então pegamos nela, reduzimo-la a dois ou três tópicos que se equacionam. Depois, por meio de uma operação intelectual, dizemos que esses tópicos se encontram no tópico comum (...)"
"(...) é forçoso encontrar um estilo. Seria bom colocar grandes cartazes nas ruas, fazer avisos na televisão e nos cinemas. Procure o seu estilo, se não quer dar em pantanas."
O problema do Coxo é comover-se com facilidade: a experiência comove-o e a comoção transforma-se em acção desmultiplicada.
O Coxo por vezes dá em pantanas.
Posted by O Coxo at 18:37 0 comments
Monday, 7 January 2008
O Ano do Coxo
Resolução de ano novo:
Acabar com as resoluções de ano novo.
Palavra de Coxo.
Ressalva: a resolução não é auto aplicável.
Posted by O Coxo at 23:46 0 comments