texto de: O Coxo
A vida interior é inóspita. Não gosto de me demorar muito por lá, sabes?
Todas as coisas são tremendas. Um candelabro que balança para lá e para cá num movimento hipnótico pode conduzir-te à morte.
Prefiro a vida cá fora. Fora dos olhos quero dizer. Nunca fui um asceta, a austeridade assusta-me. Vivo na tangência da pele ferozmente arrancada pelo atrito da fuga.
O tempo é atroz, o amor é pungente. É preciso habitar a experiência, glorificar o instante pródigo, arrancar mais pele na fuga e sobretudo não olhar para dentro. Toda a racionalidade é abominável e conduz à loucura.
Ou então tudo isto é assombro. Talvez tenha medo de escadas sem fim e nada de portas, nada de janelas, escadas em espiral até ao infinito e onde está a felicidade merda ? como é que saio daqui ?
Já passeaste dentro de ti ? não me refiro à espiritualidade nem à metafísica, quero saber se já te passeaste por veredas interiores ladeadas de arbustos. Quero saber se já te passeaste por amplos jardins que terminam em horizontes ambíguos. Quero saber se já te perdeste nessa névoa macilenta que dissolve todas as formas.
E no entanto quando fecho os olhos só escadas. Fecho os olhos e escadas sem fim.
Toda a vida interior é absurda.
Wednesday, 13 February 2008
Claustrofobia
Posted by O Coxo at 23:39
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