À semelhança de Akáki na novela "O Capote", Gógol também foi funcionário. Quando veio da Ucrânia para São Petersburgo, Nikolai Gógol trabalhou para um ministério.
Não sei em que departamento. Como diria o próprio:
"No departamento de... não, é melhor não revelarmos em que departamento. Não há nada mais susceptível do que todos esses departamentos, regimentos, escritórios, em suma, do que toda essa espécie burocrática."
Quando o Coxo começou a ler esta novela, que faz parte do que alguns autores chamam o "ciclo petersburguense", cheirou-lhe logo ao universo Kafkiano de "O Processo".
Akáki é o anti-herói por excelência. E o Coxo não pode deixar de simpatizar com este funcionário que "não se pode dizer que fosse digno de nota: baixa estatura, o seu tanto bexigoso, a dar para o arruivado, de aparência, até, um pouco míope, uma pequena calvície na fronte, rugas em ambas as faces e uma dessas cores de tez a que chamam de hemorroidal..."
Em suma, um desses personagens que às vezes vemos nas repartições de finanças escondido por trás de uma pilha de livros, e do qual só conhecemos o carimbo no papel devido.
Esperam-me agora os outros quatro livros do mesmo ciclo: "O Nariz", "Diário de um Louco", "Avenida Névski" e "O Retrato".
Monday, 25 February 2008
Akáki Akákievitch
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Friday, 22 February 2008
Inscrição
Poema de Camilo Pessanha
Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
Oh ! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...
Posted by O Coxo at 19:49 0 comments
Tuesday, 19 February 2008
Les Temps Modernes
Lausanne accueille jeudi 21 un événement exceptionnel: l'accompagnement en direct par l'Orchestre de la Suisse romande de la projection du célèbre film de Chaplin Les temps modernes.
La première des Temps modernes a lieu à New York en février 1936. C'est la dernière apparition à l'écran du personnage de Charlot. Charlie Chaplin développe dans ce film ses réflexions: «Le chômage, voilà la question essentielle. Les machines devraient faire le bien de l'humanité, au lieu de lui apporter tragédie et chômage», déclarait-il en 1931. A la sortie du film, où Charlot campe un ouvrier qui devient fou au milieu des machines, cela fait près de dix ans que le cinéma parlant existe, mais Chaplin reste fidèle au muet, écrivant lui-même la musique.
Ciné concert Les Temps modernes au Théâtre de Beaulieu par l'Orchestre de la Suisse romande , Lausanne, jeudi à 20 h 15.
Posted by O Coxo at 23:06 0 comments
Sunday, 17 February 2008
Street Art from Banksy
It is not the first time I show a work from Banksy in this blog. But I come back to him because it is just amasing to see the range of works he has produced in different projects.
Weburbanist has a nice article on him and on his site you can find more examples of his work.
Posted by O Coxo at 00:01 0 comments
Thursday, 14 February 2008
Entroncamento
texto de: O Coxo
Um rapaz chega a um entroncamento. O público grita por trás:
- À esquerda, à esquerda !
- Em frente, em frente !
No embaraço da escolha o rapaz cava um túnel e nunca mais é visto.
Rumores sugerem que foi viver para os antípodas.
Construíu casa numa rotunda e no quintal plantou malmequeres.
Posted by O Coxo at 19:14 0 comments
Wednesday, 13 February 2008
Claustrofobia
texto de: O Coxo
A vida interior é inóspita. Não gosto de me demorar muito por lá, sabes?
Todas as coisas são tremendas. Um candelabro que balança para lá e para cá num movimento hipnótico pode conduzir-te à morte.
Prefiro a vida cá fora. Fora dos olhos quero dizer. Nunca fui um asceta, a austeridade assusta-me. Vivo na tangência da pele ferozmente arrancada pelo atrito da fuga.
O tempo é atroz, o amor é pungente. É preciso habitar a experiência, glorificar o instante pródigo, arrancar mais pele na fuga e sobretudo não olhar para dentro. Toda a racionalidade é abominável e conduz à loucura.
Ou então tudo isto é assombro. Talvez tenha medo de escadas sem fim e nada de portas, nada de janelas, escadas em espiral até ao infinito e onde está a felicidade merda ? como é que saio daqui ?
Já passeaste dentro de ti ? não me refiro à espiritualidade nem à metafísica, quero saber se já te passeaste por veredas interiores ladeadas de arbustos. Quero saber se já te passeaste por amplos jardins que terminam em horizontes ambíguos. Quero saber se já te perdeste nessa névoa macilenta que dissolve todas as formas.
E no entanto quando fecho os olhos só escadas. Fecho os olhos e escadas sem fim.
Toda a vida interior é absurda.
Posted by O Coxo at 23:39 0 comments
Rotina
texto de: O Coxo
É assim: parte-se de manhã e o sol até parece uma estrela viva em que fusões nucleares e assim. Mas não. Na brutalidade da luz matinal constroí-se o equívoco. E enquanto luto para tirar a maldita geada do vidro do carro tenho medo desses oito minutos.
Conduzo por instinto. Não vejo o carro que vem da esquerda e a luz mais forte ainda. Oito minutos volvidos. Hidrogénio em Hélio e fotões aos montes.
Vozes à minha volta e a luz forte que vem do tecto.
Tecto ?
Tenho sono (como todos os dias de manhã temos sono). Vozes à minha volta de cara tapada e bata branca. Estou deitado.
- passa-me o bisturi
Mais sol e oito minutos sem saber se haverá carros da esquerda. O sol com uma cor mais branca e por cima um tecto.
Um tecto ?
De certeza que estou atrasado. Da rotunda ao escritório cinco minutos e agora o carro da esquerda e eu aqui deitado a olhar o sol.
O sol ?
eu aqui deitado a olhar a luz pendurada do tecto. A olhar a luz pendurada do tecto e as enfermeiras
enfermeiras ?
as enfermeiras agitadissimas. Uma azáfama de hospital como se alguém
eu ?
como se alguém estivesse atrasado para o trabalho porque na rotunda a geada, o vidro, o carro da esquerda, o rádio que falava de baixas pressões, o homem de bicicleta que todos os dias me cruzo com ele, a farmácia ainda fechada, o buraco na estrada (o buraco que outro dia esqueci e o pneu furado), o ruído de travagem.
É assim: Parte-se de manhã já atrasado. A luz do sol dá-nos oito minutos de vida e a malha do destino fecha-se à nossa volta. Depois uma linha direita numa máquina que lê corações e no final mais luz. Dizem que um túnel.
Não sei se um túnel, mas parece-me que hoje não vou chegar a horas ao trabalho.
Posted by O Coxo at 00:28 0 comments
Friday, 8 February 2008
...et nous reparlerons des gentilshommes de fortune
"... tu savais qu'une tzigane m'a dit que lorsque je mourrai tous ceux qui seront autour de moi mourront aussi ?"
Posted by O Coxo at 22:53 0 comments