Thursday, 25 February 2010

marés

(texto de O Coxo)

Dizia-me um amigo sobre as viagens:
"vou em busca da diferença"
já não lhe chegava o pensamento oblíquo
porque havia como que uma necessidade anfíbia em atravessar águas
galgar marés, no sentido ascendente do termo
com livros às costas e um alfarrabista no alforge
para dar de comer aos lobos
e aos cruzados.
Falava na desfragmentação das linhas de fuga
era um discurso acrónimo de quatro letras:
F.U.G.A.
e a mim tudo aquilo me consumia imenso
no meio dos braços criogénicos
gritava-se incêndio
por entre o dilúvio
gritava-se enxurrada e as marés trepavam à lua
enquanto o luar batia com violência no horizonte
fustigando linhas de fuga intangíveis

sabes onde vai?
não interessa:
leva o antídoto na algibeira
e um caderninho de álgebra com contas fáceis
Oh da casa!
assassino das cavernas de jade
guardador dos fogos-fátuos, infernos,
de olhos negros ostracizados,
deixai-nos entrar nessa morada de corpos filiais
onde as areias vêm morrer à margem
ao ritmo esquizofrénico das marés

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