Tuesday, 24 September 2013

nas ervas altas

(O Coxo)

As mãos não valem de nada nas ervas altas

têm manchas,
aflorações da pele como quistos,
raízes na terra derramada.
e no seu pânico crescem como plantas
(com uma intencionalidade vertical).

são como luzes permanentes
iluminando o relevo anatómico.

e no entanto
há uma certa perspicácia
na verde prodigalidade da sua loucura,
uma humildade orgânica
no movimento aflitivo dos dedos.

..

as mãos mentem.
mentem aos homens como insectos
no terror nocturno das camas.
fingem despertares kafkianos,
metamorfoses inúteis,
e deixam as raízes esgotar a água dos muros
erguidos na esperança de chuva.

as mãos
trabalham com minúcia a memória da água
(gotas de sangue conquistadas sulco a sulco
no terror dos caules).

são por isso:
intérpretes involuntários da vontade do corpo

..

as mão criam a sua própria fotossíntese
a partir dos mortos

1 comment:

Telemaco said...

mt bom!

trabalham com minucia a memoria da agua!
as maos
http://sudamericanoclaro.blogspot.co.uk/2007/10/as-maos-de-guayasamn_09.html

abraco, Luis