Era uma vez um pintor que tinha um aquário com um peixe vermelho.
Vivia o peixe tranquilamente acompanhado pela sua cor vermelha até que
principiou a tornar-se negro a partir de dentro, um nó preto atrás da
cor encarnada. O nó desenvolvia-se alastrando e tomando conta de todo o
peixe.
O problema do artista era que, obrigado a interromper o
quadro onde estava a chegar o vermelho do peixe, não sabia que fazer da
cor preta que ele agora lhe ensinava. Os elementos do problema
constituíam-se na observação dos factos e punham-se por esta ordem:
peixe, vermelho, pintor — sendo o vermelho o nexo entre o peixe e o
quadro através do pintor. O preto formava a insídia do real e abria um
abismo na primitiva fidelidade do pintor.
Ao meditar sobre as razões da mudança exactamente quando
assentava na sua fidelidade, o pintor supôs que o peixe, efetuando um
número de mágica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o
mundo das coisas como o da imaginação. Era a lei da metamorfose.
Compreendida esta espécie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo.
(Herberto Helder in "os passos em volta")
Tuesday, 26 June 2012
vortice
Posted by O Coxo at 18:24
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