texto de: O Coxo
Afligi-me ter que escrever. Passei pela vida como um fugitivo e agora afligi-me resumir tudo isso num desfilar de frases com sentido. Não quero que faça sentido. Porque é que há-de fazer sentido.
Entretanto gostava de ter uma cadeira de baloiço. O crepitar da madeira a ritmar a oscilação sustentada enquanto me decido a escrever. Um vizinho louco no andar de baixo
- a maldita cadeira do velho !
e a minha mão a desfilar pelo papel em tremeliques de
- maldito velho, maldita cadeira ! pare lá com isso homem !
a minha mão tão enrugada, as veias salientes dum verde carregado.
As veias salientes já mais fora da pele do que dentro, como se o sangue já não estivesse confortável neste corpo cansado.
Para quê escrever se amanhã a morte e depois nem o verde das veias, nem o vizinho a gritar nem o crepitar da cadeira com o qual às vezes adormeço na sala de estar, de caneta na mão e um papel em branco em cima da mesa.
Tuesday, 15 April 2008
Amanhã e depois
Posted by O Coxo at 23:12
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