Thursday, 4 October 2007

A foto do castelo ausente


















Tirada um destes dias em Edimburgo, a foto é o somatório dos seguintes elementos:

1. O Castelo ausente.

O castelo, se bem que ausente da foto, é o elemento primordial, mitológico. Precipita-se no promontório numa verticalidade de pedra. Em baixo os homens veneram-no.

A ausência alimenta o mito.

2. A cidade.

A cidade desceu do castelo. Cravou raizes na aresta. Depois floresceu numa prodigalidade de ruelas caindo morro abaixo.

Outra analogia: primeiro o dorso nú, a espinha, o nervo. Depois as costelas, frágeis, inevitáveis.

3. Os homens.

Os homens jazem nos jardins. Dormem trespassados pelo vento que corre das ameias. O odor da carne extinguida alimenta a migração dos mitos do interior do castelo para o interior dos homens.

Ou então mais simples: estendem-se na relva como répteis e deixam o sol aquecer-lhes o sangue. Quando não há sol fazem luminoterapia, suicidam-se.

Os homens às vezes têm o sangue frio.

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