Wednesday, 2 September 2015

peixe homem

Um homem mergulha pedra adentro como uma deflagração
demonstrando uma fé pouco comum nos elementos ateus da geologia

É o milagre da transposição.

Os elementos místicos do vôo
o corpo, a rocha, a deflagração
assim colocados sobre um denominador comum
o grito

A realidade é mais simples:
ossos que se estilhaçam na queda, cabeças abertas que desconfiam dos pais
e o desespero animal
uma espécie de crença desproporcionada que não sabe amortecer a queda
um ideal que esbarra brutalmente contra a realidade.

Tudo resulta de um equívoco simples:
o homem mergulha na rocha porque tem uma fé inabalável na água
e um peixe-homem que crê nos elementos julga-se invencível como um Deus.

Depois da morte o homem constrõe para si uma espécie de pureza estratificada
nas amarras da terra
vive assim sepultado na sua coragem mineral
acordando de quando a quando em murmúrios mesquinhos.

Vive então como um animal esventrado

ou melhor
como um peixe.

Isso. Um peixe.

É um peixe rídiculo o homem

O Coxo

Wednesday, 26 August 2015

La Bâtie



Monday, 24 August 2015

bishorn

this saturday, approaching the summit of bishorn


and leaving the summit...


Monday, 10 August 2015

Lugar Lugares

De tempos a tempos é preciso um corrimão ao qual se agarrar na queda. E há corrimões essenciais. Aqui está um.

excertos de Lugar Lugares, in "Os Passos em Volta", Herberto Helder

Era uma vez um lugar com um pequeno inferno e um pequeno paraíso, e as pessoas andavam de um lado para outro, e encontravam-nos, a eles, ao inferno e ao paraíso, e tomavam-nos como seus, e eles eram seus de verdade. As pessoas eram pequenas, mas faziam muito ruído. E diziam: é o meu inferno, é o meu paraíso. E não devemos malquerer às mitologias assim, porque são das pessoas, e neste assunto de pessoas, amá-las é que é bom.
(...)
À parte isso o lugar era execrável. As pessoas chiavam como ratos, e pegavam nas coisas e largavam-nas, e pegavam umas nas outras e largavam-se. Diziam: boa tarde, boa noite. E agarravam-se, e iam para a cama umas com as outras, e acordavam. Às vezes acordavam no meio da noite e agarravam-se freneticamente. Tenho medo — diziam. E depois amavam-se depressa e lavavam-se, e diziam: boa noite, boa noite. Isto era uma parte da vida delas, e era uma das regiões (comovedoras) da sua humanidade,
(...)
E no tal lugar, de manhã, as pessoas acordavam. Bom dia, bom dia. E desatavam a correr. É o meu inferno, o meu paraíso, vai ser bom, vai ser horrível, está a crescer, faz-se homem. E a gente então comove-se, e apoia, e ama. Está mais gordo, mais magro. E o lugar começa a ser cada vez mais um lugar, com as casas de várias cores, as árvores, e as leis, e a política. Porque é preciso mudar o inferno, cheira mal, cortaram a água, as pessoas ganham pouco — e que fizeram da dignidade humana? As reivindicações são legítimas. Não queremos este inferno. Dêem-nos um pequeno paraíso humano.
(...)
E eu então fui para o emprego e trabalhei, e agora tenho algum dinheiro, e vou alugar uma casa decente, e o nosso filho há-de ser alguém na vida. E então a gente ama, porque isto é a verdadeira vida, palpita bestialmente ali, isto é que é a realidade, e todos juntos, e abaixo a exploração do homem pelo homem. E era intolerável.
(...)
E as crianças cresceram todas, e andavam de um lado para outro, e iam fazendo pela vida — como elas próprias diziam. E então as condições sociais? Sim, melhoraram bastante. Mas uma delas começou a beber, e depois o coração estoirou, e ficou apenas para os outros uma memória incómoda. Parece que sim, que tinha demasiada imaginação, e levaram-na ao médico e ele disse: aguente-se, e ela não se aguentou. Era uma criança. Não, não, nessa altura já tinha crescido, bebia pelo menos um litro de brandy por dia. Nada mau, para uma antiga criança. A verdade é que era uma criança, e não se aguentou quando o médico disse: aguente-se.

Sunday, 9 August 2015

this is not a bottle

this is a year

limp (Coxo), as per Wikipedia:
"limp is a type of asymmetric abnormality of the gait."



Sunday, 19 July 2015

through the rain

from someone in a taxi in Monrovia,


Saturday, 18 July 2015

Saleina

First hike of the season, Saleina hut, Valais. Great view over the Saleina glacier. Saleina is a modern and beatiful hut, only 10 year old. The picture below shows a delicate part of the hike, although well equipped with via ferrata style holds.


Friday, 1 May 2015

Taxi Tehran




Saturday, 18 April 2015

Ruabaiyait


They tell me the other world is as beautiful as a houri from heaven!
Yet I say that the juice of the vine is better.
Prefer the present to those fine promises.
Even a drum sounds melodious from afar.

Persian poem in Omar Khayyam’s Rubaiyait, translated by Edward Fitzgerald

Tuesday, 14 April 2015

Cully Jazz 2015

http://www.cullyjazz.ch/

Wednesday, 25 March 2015

ELECTRON 2015

April in Geneva means Easter Electron Festival.
Venues include Usine, Fonderie Kugler, La Gravière.

http://www.electronfestival.ch/2015/

Thursday, 26 February 2015

Good ol' Charlie Brown

Some years ago in a second hand english books sale in Geneva that I found by chance while wondering around in Paquis, I bought three comic books from the Peanuts. The Peanuts were not always consensual amongst comics lovers and there is an annoying tendency to compare it with Calvin and Hobbes as if you had to choose one and throw the other. I met Charlie Brown and the Peanuts a long time ago but only later I was able to fully appreciate Charles M. Schulz's humour. From Charlie Brown's anxieties and fears to Lucy's grumpiness and Linus' naivety, it is difficult not to empathize with the characters. But I understand the ambivalence towards Charlie Brown, he is not easy to love. As one of the characters said in one of Peanuts' first strips:
'here comes good old Charlie Brown, 
yes indeed good old Charlie Brown, here he comes... 
Good old Charlie Brown... 
- How I hate him!'




Sunday, 22 February 2015

FIFDH 2015 Geneva

http://www.fifdh.org/site/home

Saturday, 14 February 2015

le grand mort

After the success and longevity of the already mythic "La Quête de l'oiseau du temps", Loisel continues exploring the realm of fantasy comics in the series "Le Grand Mort". Although not having the same epic stature of its previous work, "Le Grand Mort" is both engaging and intriguing. The scenario is carefully thought with a credible set of characters that are slowly introduced to the reader through the first books.
The only thing I would point out to anyone starting this series is that the plot  takes its time to unveil and this lenteur can be a bit unnerving. A deliberate strategy from the authors to allow more time for the reader to get involved and for the plot to thicken. So as long as you're ok with that, this is a series that can help mitigate that "l'oiseau du temps" nostalgia...



dia de chuva

tempo de sobra entre as palavras
para engolir espinhos, rosas, caules,
uma expressão gutural
que me caiu no rosto
muito antes da chuva
e estilhaços de céu
a bater nas vidraças

O Coxo

Wednesday, 21 January 2015

Antigel

First day Antigel festival of the Antigel festival in Geneva.


Saturday, 17 January 2015

black movie festival Geneva

The Black Movie festival is on. From 16 to 25 January 2015, Geneva.



Tuesday, 6 January 2015

Un voyage en Inde


"En calcule statistique rapide,
la moitié des guerres a son origine dans l'invasion concrète d'un
compartiment meublé d'un pays
tandis que l'autre moitié est due à l'invasion de l'ennui.
Voilà pourquoi la paix est plutôt dans le monde un état obsolète.
Les arbres, par exemple, tolèrent bien l'ennui:
il ne se passe pratiquement rien dans le royaume végétale d'une forêt,
et ce n'est pas pour autant que les exaltations guerrières
se multiplient. L'homme
devrait apprendre à imiter la douce impétuosité des arbres"

in "Uma viagem à India", Gonçalo Tavares, traduit librement par O Coxo