A friend tipped off about this band, called Beirut, and I just can't stop singing this music... just put it loud and have fun.
Friday, 27 June 2008
Thursday, 12 June 2008
Lugar Lugares
De tempos a tempos é preciso um corrimão ao qual se agarrar na queda. E há corrimões essenciais. Aqui está um.
excertos de Lugar Lugares, in "Os Passos em Volta", Herberto Helder
Era uma vez um lugar com um pequeno inferno e um pequeno paraíso, e as pessoas andavam de um lado para outro, e encontravam-nos, a eles, ao inferno e ao paraíso, e tomavam-nos como seus, e eles eram seus de verdade. As pessoas eram pequenas, mas faziam muito ruído. E diziam: é o meu inferno, é o meu paraíso. E não devemos malquerer às mitologias assim, porque são das pessoas, e neste assunto de pessoas, amá-las é que é bom.
(...)
À parte isso o lugar era execrável. As pessoas chiavam como ratos, e pegavam nas coisas e largavam-nas, e pegavam umas nas outras e largavam-se. Diziam: boa tarde, boa noite. E agarravam-se, e iam para a cama umas com as outras, e acordavam. Às vezes acordavam no meio da noite e agarravam-se freneticamente. Tenho medo — diziam. E depois amavam-se depressa e lavavam-se, e diziam: boa noite, boa noite. Isto era uma parte da vida delas, e era uma das regiões (comovedoras) da sua humanidade,
(...)
E no tal lugar, de manhã, as pessoas acordavam. Bom dia, bom dia. E desatavam a correr. É o meu inferno, o meu paraíso, vai ser bom, vai ser horrível, está a crescer, faz-se homem. E a gente então comove-se, e apoia, e ama. Está mais gordo, mais magro. E o lugar começa a ser cada vez mais um lugar, com as casas de várias cores, as árvores, e as leis, e a política. Porque é preciso mudar o inferno, cheira mal, cortaram a água, as
pessoas ganham pouco — e que fizeram da dignidade humana? As
reivindicações são legítimas. Não queremos este inferno. Dêem-nos um
pequeno paraíso humano.
(...)
E eu então fui para o emprego e trabalhei, e agora tenho algum
dinheiro, e vou alugar uma casa decente, e o nosso filho há-de ser
alguém na vida. E então a gente ama, porque isto é a verdadeira vida,
palpita bestialmente ali, isto é que é a realidade, e todos juntos, e
abaixo a exploração do homem pelo homem. E era intolerável.
(...)
E as crianças cresceram todas, e andavam de um lado para outro, e iam
fazendo pela vida — como elas próprias diziam. E então as condições
sociais? Sim, melhoraram bastante. Mas uma delas começou a beber, e
depois o coração estoirou, e ficou apenas para os outros uma memória
incómoda. Parece que sim, que tinha demasiada imaginação, e levaram-na
ao médico e ele disse: aguente-se, e ela não se aguentou. Era uma
criança. Não, não, nessa altura já tinha crescido, bebia pelo menos um
litro de brandy por dia. Nada mau, para uma antiga criança. A verdade é
que era uma criança, e não se aguentou quando o médico disse:
aguente-se.
Posted by O Coxo at 01:51 0 comments
Saturday, 7 June 2008
cena para o final de um terceiro acto
poema de Mário Cesariny em "Manual de Prestidigitação"
Uma esquina outra esquina
depois os breves canteiros floridos
de quando a cidade era pequenina
depois os longos rochedos brutais
a lua o mar eterno o cais
Posted by O Coxo at 00:24 0 comments
Friday, 6 June 2008
Kiss the wind
These 16 songs were recorded between 1991 and 2006, spanning the Room To Roam, Dream Harder, Rock In The Weary Land and Universal Hall eras. You can listen to some samples here.
Posted by O Coxo at 17:50 0 comments
Wednesday, 4 June 2008
Art 39
The Other, Ján Mančuška, 2007, taken from Art 39 Basel
(I asked my wife to blacken all parts of my body I cannot see)
Posted by O Coxo at 20:00 0 comments