Sunday 14 December 2008

The Music

FISHERMAN'S BLUES 86


Still my favorite music, still my favorite band...

Happy 50th Birthday, Mike Scott !

Thursday 11 December 2008

Realm


















Realm

Realm of medusas and flat water
Realm of silence, light and stone
Dwelling of astonishing forms
Column of salt and circle of light
Measure of mysterious Libra.

Poem taken from "shores, horizons, voyages by Sophia de Mello Breyner Andresen, translated by Rui Cascais Parada

Photo by: O Coxo; Cayo Santa Maria, Cuba 2006

Tuesday 9 December 2008

Donjon Zénith




















Je suis en train de re-lire la saga Donjon Zénith de Lewis Trondheim et Joann Sfar. J'ai acheté mon premier album de cette série en 2002 et depuis je suis devenu un lecteur fidèle de Trondheim. C'est son humour simple mais déconcertant qui me captive. Cette deuxième lecture m'a apporté quelques moments de bonheur et j'ai pensé qu'il serait une bonne idée de les partager avec vous.

L’univers Donjon a été créée en 1998 par ces deux dessinateurs. À eux deux, ils ont signés plus de 250 albums. Un travail en commun ne pouvait que créer une réaction nucléaire: une aventure titanesque qui dure maintenant depuis 10 ans. En 1998, travaillant dans le même atelier, Joann Sfar et Lewis Trondheim se lancent un défi : imaginer une série d’Heroic Fantasy qui n’en soit pas vraiment une.

La série se décline désormais en trois époques : naissance (Donjon Potron-Minet), l’apogée (Donjon Zénith) et la chute (Donjon Crépuscule). À cela s’ajoutent des histoires indépendantes (Donjon Monsters) et humoristiques (Donjon Parade).

Je n'ai lu que deux séries: Zénith et Donjon Parade mais je les recommande vivement !

Pour un peu plus d'info: http://www.lewistrondheim.com/

bonnes lectures !

Saturday 6 December 2008

Postcards from Italy

It is the second time I post a video clip from Beirut, the difference is that in the meantime I bought their album "Gulag Orkestar" and I felt in love with their music. So here is my bit of sharing... enjoy.

Tuesday 2 December 2008

L'usinécézamis























I know, I know... a bit too early for weekend suggestions.... anyway, here is my suggestion for your weekend in Geneva. 

To celebrate its 15th anniversary, Théatre de l'Usine is proposing four nights of short theatre plays where they ask the artists to explore the theme "liberty".

Theatre de l'Usine is one of the most interesting venues of the alternative scene in Geneva, a place where independent artists have been showing their creations for 15 years. The ambiance is relaxed and the evening often starts in the bar around a glass of wine.

If you haven't been there, now is the opportunity: the entrance is free, the place is Theatre de l'Usine from Thursday, 04 December 2008 to Sunday, 07 December at 20h00, Sunday at 19h00.

Monday 24 November 2008

sobre os espelhos

texto de: O Coxo

Um poeta move-se na violência dos espelhos. Move-se maternalmente entre as imagens e delas colhe esse amor pródigo com que empilha as palavras.

Esse amor dissoluto com que empilha as palavras e depois as destroi.

O cenário é este: a verticalidade do verso na profusão da luz. Uma luz vaga e imprópria. Uma luminosidade incestuosa onde se establecem as intrincadas leis da metáfora. Um, dois fotões perdidos numa cave até aqui só penumbra e então um clarão repentino, o verso, o poema, o deslumbramento !

A poesia constroi-se no aturdimento dos sentidos: imagens que entram em nós invertidas mas em que aceitamos acreditar num pacto de conivente ingenuidade. O princípio básico consiste em introduzir erros na atribuição das probabilidades a uma ou outra partícula elementar da construção das frases e depois tender para a normalidade.

O poeta é tão sensível à sua própria brutalidade como ao sofrimento colectivo. Por isso a gestação da luz no ventre estropiado, enquanto lá fora chove (as estrofes louvavelmente afectadas pela meteorologia: ventos de fraca intensidade e ondulação de noroeste). E como arma maternal os espelhos.

Tudo isto é atroz. E todavia permanece credível dentro do poema enquanto for explorado até à náusea.

Mas há uma estética. Quer dizer, se calhar não é uma estética: a luz e a observação dos gradientes na superfície dos espelhos são uma estética ? refiro-me aos espelhos côncavos e convexos. E às imagens que entram em nós invertidas.

O que interessa é o amor.

Esse amor dissoluto com que empilha as palavras e depois as destroi.

E a luz na cave onde está submerso.

Sunday 23 November 2008

Boudhanath


















Boudhanath stupa, Kathmandu; photo taken by: O Coxo, October 2008

Saturday 22 November 2008

Monastery


Small monastery in Lukla, picture taken by: Coxo, October 2008
Regards to Toshi

Friday 21 November 2008

decomposição

Porra, e já é sexta feira ! contam-se as horas e entretanto passaram anos: as verdades permancem invencíveis no seu posto. Há dúvidas, certo. Há hesitações. Mas a inevitabilidade cavou trincheiras à nossa frente. Caminhamos todos em espiral para algo monstruoso. Agrada-nos o conforto das forças centrífugas. Queremos um fim, procuramos respostas, um centro, uma metafísica, todas essas coisas absurdas que representam dois ou três impulsos eléctricos num cérebro também ele absurdo. Perpetuamo-nos e perpetuamos as perguntas. Depois vêm os filósofos e põem em causa as perguntas. Depois vêm os sociólogos e os políticos, e os que tiraram lições da história e aplicam as suas lições ao experimentalismo. E o experimentalismo torna-se a própria história e daí tiramos as nossas lições para aplicar mais tarde.


E o fim de semana ? ah, é já amanhã...

Notas para uma regra de vida

Por momentos pareceu-me que Bernardo Soares falava do Coxo quando lia esta passagem do livro do desassosssego:


"E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; Um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende."


Tuesday 18 November 2008

Strange days

Click to enlarge

Monday 3 November 2008

Kala Pathar

Everest and Nupse view from Kala Pathar, 5643m

(http://en.wikipedia.org/wiki/Kala_Patthar)

Khumbu valley, Nepal

Wednesday 15 October 2008

O coxo na aldeia amarela...

se não lhe faltarem as pernas...

De regresso em Novembro. Até lá !















photo: Everest base camp, Nepal

Sunday 12 October 2008

film - Nomad's land













Je viens de voir le film "Nomad's land" au Scala, Genève. J'avoue que je suis toujours un peu sceptique para rapport aux documentaires du type récits de voyage. Les réalisateurs tombent souvent dans l'erreur de faire un documentaire sur sa vision du voyage, plutôt que sur le voyage lui même.

J'ai quand même décidé aller voir ce film vu les critiques favorables et je n’étais pas déçu. La simplicité du regard que le réalisateur porte sur les endroits et les personnes a su me convaincre. La beauté des images a fait le reste. À voir absolument.

Voici un petit résumé: En essayant de refaire le voyage en Extrême-Orient d'un romancier genevois des années 50, le réalisateur, un Suisse de 30 ans, fini par s'écarter de son projet initial et se laisse conduire par des nomades dans un périple par les montagnes du Paquistan, Afghanistan et Iran...



Friday 10 October 2008

Toumast

The first time I heard Tinariwen, I was at the desert in the south of Lybia. One evening while preparing the tea, Moussa, our Tuareg guide originary from Niger, was listening to this intense, hypnotic music, a unique combination of traditional Tuareg music with some old ancestor of Blues...

For those who don't know Tinariwen's music, they sing mainly in Tamashek which is a Berber language spoken by the Tuareg in many parts of Mali, Niger, Algeria, Libya and Burkina Faso.

This week, I don't know why, I felt I needed to hear that sound again. And share it with you:. Here is the music "Toumast" (The people):

If you are interested, there is a good documentary about them here.

Thursday 9 October 2008

Disorder @ Cabinet

What you are really needing to cheer you up this weekend is a post-punk new-wave indie-pop night...

























See you this saturday @ Cabinet, Blvd St Georges, Geneva

Wednesday 8 October 2008

O humor em quotidiano negro III

Herberto Helder in "Photomaton & Vox"

Antes de se suicidar com gás, um pacato cidadão de uma cidade de província deixou sobre a mesa da cabeceira o dinheiro para o padeiro e o leiteiro. E colocou à porta da casa um grande papel com os dizeres: "Cuidado com o gás."

Tuesday 7 October 2008

O humor em quotidiano negro II

Herberto Helder in "Photomaton & Vox"

a) A polícia está a investigar a queixa apresentada por um engenheiro contra um seu cunhado, a quem acusa de lhe ter arrancada a orelha esquerda com uma dentada.

O engenheiro queixou-se também da polícia, pois ao sair do hospital para ir buscar a orelha que ficara na esquadra descobriu que fora comida por um cão polícia.

b) Um sargento foi acusado de morder selvaticamente a futura sogra.

O incidente aconteceu quando a mãe não permitiu à filha sair com o sargento.

Alegou-se que, tendo a filha acorrido em defesa da mãe, o sargento também a mordeu, acabando depois o noivado.

c) Um indivíduo encontra-se hospitalizado porque a mulher, segundo testemunhas oculares, lhe "comeu sofregamente" uma das orelhas.

d) A polícia procura cinco jovens que quase devoraram à dentada um velho de 65 anos.

e) um jovem peruano foi acometido de raiva e mordeu doze pessoas.

Teve de ser abatido a tiro.

Monday 6 October 2008

O humor em quotidiano negro I

Herberto Helder in "Photomaton & Vox"

Uma nova lei, redigida em termos demasiado explícitos e destinada a fazer baixar a venda de literatura libertina, está a tornar-se um best-seller.

Alguns críticos dizem ser ela tão específica na definição do conceito de obscenidade que devia ser proibida sob as suas próprias alegações.

Alguns leitores já compraram toda a primeira edição.

Saturday 4 October 2008

Peur du noir












The 3rd edition of Geneva's festival international du film d'animation, Genève, starts today with the movie "Peur du Noir". It will be in Titanium cinema, at 19h30. You can check the festival's program here.

I knew about this festival from a friend, so it is the first time I am going which means I cannot comment on the quality of the movies yet... but the opening movie looks promissing:

Le frôlement rapide de pattes d’araignées sur une peau nue…
Des bruits inexplicables que l’on entend la nuit, enfant, dans une chambre close…
Une grande maison vide dans laquelle on devine une présence…
L’aiguille d’une seringue qui se rapproche inexorablement…
Autant de frissons que nous avons tous éprouvés un jour ou l’autre.

Six grands auteurs graphiques et créateurs de bande dessinée ont accepté d’animer leurs dessins et de leur insuffler leurs cauchemars, gommant les couleurs pour ne garder que l’âpreté de la lumière et le noir d’encre de l’ombre. Leurs récits entrelacés composent une fresque unique, où phobies, répulsions et rêves prennent vie, montrant la peur sous son visage le plus noir…

Plano B




























desenho de: Quino

Monday 29 September 2008

Na berma da estrada

texto de: O Coxo

Amanhã é improvável. A não ser que passe alguém e me leve. Se passar alguém que me leve então deixarei de ser louco. Abdicarei de anos e anos de desconstrução interior.

Na berma da estrada, ou mesmo parado sobre um passeio de granito, um louco transborda-se. Sobra-se (é por isso que um louco ocupa sempre dois lugares num banco de jardim).

E no entanto os loucos são absurdamente magros.

Por outro lado há por aí pessoas muito pequenas. Gente que sabe fazer malas e consegue fechá-las no fim, sabes ? Comigo nunca resulta: há sempre uma manga de camisa de fora ou uma meia que teima em cair.

Por isso amanhã é improvável. A não ser que passe alguém e me leve. Se passar alguém que me leve então fecho a luz e acordo (porque eu sonho excessivamente de luz aberta). É que num louco há um relógio imperativo que não não toca. Ainda é manhã quando um louco anoitece e mesmo assim julga-se madrugador.

Por isso o improvável. A não ser que passes por aqui e me acordes e me leves contigo e me penteies em frente ao espelho para me dares a dignidade de que os loucos carecem e depois quem sabe se na berma da estrada possamos, sei lá, apanhar uma boleia e partir à procura dessa gente miudinha que sabe fazer a mala e que anda sempre de risca ao meio ou podemos ficar por aqui de luz fechada deitados lado a lado sobre o chão de granito a ver as estrelas cair até que um tipo de bata branca me agarre e me ponha a camisa de forças, e aí sim, é provável que eu vá.

Tuesday 23 September 2008

AMR jam sessions









AMR Jazz Jam sessions are back !

That is my favorite spot for Geneva's tuesday evenings from 21h30.
See you in rue des Alpes one of these tuesdays...

Sunday 7 September 2008

There's an elephan in the room













(click to enlarge)

work from Banksy

Banksy in New Orleans


New Orleans
"Apparently there was some kind of storm here, a few years ago"
More in:

Wednesday 3 September 2008

porque amanhã vai chover

texto de: O Coxo

Chovia póstumamente. As gotas fustigavam as janelas com um amor exacerbado. Penetravam pacientemente nos interstícios da fé.

(porque a água procura o homem na inviolabilidade das casas)

Dentro das casas os homens rezavam. Todos os homens transbordam de fé nos dias chuvosos. Recusam o afecto dos elementos por detrás de janelas de vidro duplo.

E as gotas batiam, soletradas. Gotas ígneas, quimicamente compostas. Esse fluido devoto era o motor da fé restablecida. Uma fé alcalina.

Quando a chuva parou os homens choraram. Tinham-se habituado ao ruído da chuva lá fora e a esse medo pueril que alimenta o divino. Alguns suicidaram-se. Outros voltaram a acreditar na necrologia e nos posfácios. Escreveram autobiografias, prepararam sepulcros, compraram gerânios.

Houve ainda aqueles que ficaram simplesmente junto à janela, imóveis. A fé suspensa na espera.

É que Deus nunca existe em dias de sol.

Friday 29 August 2008

A hora dos imberbes

texto de: O Coxo

Inácio não tinha relógio, por isso deixou crescer a barba. Havia entre os seus colegas de trabalho quem duvidasse que uma barba pudesse substituir um relógio. Os funcionários são criaturas avessas às pilosidades preferindo uma boa dose de cepticismo e um relógio de quartzo. Mas Inácio não se intimidou. E a dita cuja foi crescendo desavergonhadamente ao ritmo de um centímetro e meio por dia útil.

Era uma barba monstruosa. Possuia uma dinâmica vida interior que se desenvolvia no sentido dos infinitos espaços inter ministeriais. Movia-se com destreza nesse jogo de minúcias temporais, animada de secretas intenções.

Perante o assombro geral, a barba ganhava terreno na repartição. Já tinha chegado ao armário das circulares administrativas e dos procedimentos anexos e ameaçava agora sem qualquer pudor a mesa dos formulários urgentes e dos requerimentos por intermédio de terceiros.

Esta prodigalidade começava a preocupar o Sr. Bonifácio que se ocupava das licenças e alvarás e que tinha visto desaparecer, sob a barba de Inácio, dois dossiers carregadinhos de processos em apreciação.

Várias barbearias, dois cabeleireiros unisexo e uma loja de tesouras ficariam assim irremediavelmente arruinados.

Coincidência ? não para o Sr. Bonifácio, que mantinha a barba debaixo de olho durante o horário legal de trabalho. Sem embargo, fazia cinco minutos de pausa para café de manhã e dez minutos à tarde, onde aproveitava para ler o jornal do ministério, inteirando-se assim dos pormenores mais escabrosos que animavam a vida da direcção geral de assuntos internos.

Um dia os acontecimentos tomaram um rumo inesperado. Bonifácio reparou que a barba crescia assincronamente em horas de ponta. A situação era inaceitável. Os funcionários inquietavam-se e corriam em todas as direcções. Adiantavam relógios na esperança de conter essa força desmedida.

Tinham convicções. Sabiam os horários de cor, com as suas tabelas e anexos. Confiavam na usura. Alicerçavam a sua vida no hábito lentamente acumulado. E agora a barba.

Inácio não se comovia. Vivia no alheamento das sombras.

Na sua loucura preenchia impressos.

As hierarquias rapidamente decretaram a nova situação como perfeitamente enquadrada pelas regras em vigor, o que tranquilizou chefes e sub chefes que se apressaram a espalhar a notícia. Então começou a crescer na repartição um clima de pubescência generalizada. Abandonava-se o relógio em troca de um bigodinho. Rasgavam-se calendários deixando crescer a pêra. Até as senhoras deixaram de depilar as axilas.

Um dia Inácio não veio trabalhar. E toda essa gente se viu entregue à sua orfandade. Olharam para os seus bigodes rídiculos e pêras e axilas e odiaram-se muito. Era um ódio fecundo. E esse fel aprimorava instintos que conduzem inevitavelmente à morte.

O tempo era escasso, a morte urgia e Bonifácio passava alvarás.

Os últimos segundos sairam dos relógios com gravidade. E depois o silêncio.

No dia a seguir a repartição não abriu. Culpou-se o governo e as instituições. Fizeram-se petições, greves de fome, manifestações.

Entretanto numa repartição vizinha Jesualdo comprou um chapéu de feltro por razões desconhecidas, provocando o espanto geral.

Monday 25 August 2008

La Bâtie





























The summer is over. In reality it never came.

Meanwhile, Artamis celebrated its last days giving the illusion of a different Geneva for one night. Now only Usine resists to this kind of "cultural cleansing" initiated last year.


I should have guessed that the city of the bankers and the oil magnats wouldn't tolerate for much longer the alternative cultural mouvement that was living hidden underneath its skin, with its centre in the squats around Plainpalais. It was time to bring things back in track, keeping culture in its usual cages, formated to please the masses.

Rhyno, Artamis, Alhambra, Scala (saved at the last minute, but for how long?), all are symptoms of this intolerance.

True, there are still festivals like "La Bâtie" to make us stay around a bit more. This year Manitoba (Palladium) is even more the centre of the festival with events every night and it promises to help Artamis to say goodbye to this summer in style. Then it also offers a wide range of theatre, dance and music events. Check out yourself in:

http://www.batie.ch/2008/presentation.html

Friday 1 August 2008

La petite pause café

ou bien les vacances...

Actually I have been on "blog hollidays" since beginning of July. Things are quite busy at CERN these days (we're getting things set for Doomsday, as some apocalyptical visionaries are saying), so I have been spending more and more time underground, where coffee machines are a rare item.

Plus, it is summer. At least that is what my calendar says although I still need some better proof than a couple of sunny days ending in diluvial rains.

Maybe it is just the fact that I have been living like a mole for the last few weeks and the sunlight starts to feel discomfortable, but I am learning to enjoy this feeling of increasing intimacy with darkness.

Even the rain that just started to fall outside (again) comes as a relief.

Anyway, I will be back during September. I will still be writing as if someone is reading. But that doesn't really matter. My only purpose now is to get through the summer without too much light.
I have a sensitive skin.

Monday 21 July 2008

Murren-Kandersteg


Photo taken during a hike from Murren to Kandersteg, via Gspaltenhornhuette and Blumisalphuette.

Thursday 10 July 2008

Poema em linha recta

Excerto de "Poema em linha Recta" de Álvaro de Campos

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Friday 27 June 2008

Elephant Gun

A friend tipped off about this band, called Beirut, and I just can't stop singing this music... just put it loud and have fun.

Thursday 12 June 2008

Lugar Lugares

De tempos a tempos é preciso um corrimão ao qual se agarrar na queda. E há corrimões essenciais. Aqui está um.

excertos de Lugar Lugares, in "Os Passos em Volta", Herberto Helder

Era uma vez um lugar com um pequeno inferno e um pequeno paraíso, e as pessoas andavam de um lado para outro, e encontravam-nos, a eles, ao inferno e ao paraíso, e tomavam-nos como seus, e eles eram seus de verdade. As pessoas eram pequenas, mas faziam muito ruído. E diziam: é o meu inferno, é o meu paraíso. E não devemos malquerer às mitologias assim, porque são das pessoas, e neste assunto de pessoas, amá-las é que é bom.
(...)
À parte isso o lugar era execrável. As pessoas chiavam como ratos, e pegavam nas coisas e largavam-nas, e pegavam umas nas outras e largavam-se. Diziam: boa tarde, boa noite. E agarravam-se, e iam para a cama umas com as outras, e acordavam. Às vezes acordavam no meio da noite e agarravam-se freneticamente. Tenho medo — diziam. E depois amavam-se depressa e lavavam-se, e diziam: boa noite, boa noite. Isto era uma parte da vida delas, e era uma das regiões (comovedoras) da sua humanidade,
(...)
E no tal lugar, de manhã, as pessoas acordavam. Bom dia, bom dia. E desatavam a correr. É o meu inferno, o meu paraíso, vai ser bom, vai ser horrível, está a crescer, faz-se homem. E a gente então comove-se, e apoia, e ama. Está mais gordo, mais magro. E o lugar começa a ser cada vez mais um lugar, com as casas de várias cores, as árvores, e as leis, e a política. Porque é preciso mudar o inferno, cheira mal, cortaram a água, as pessoas ganham pouco — e que fizeram da dignidade humana? As reivindicações são legítimas. Não queremos este inferno. Dêem-nos um pequeno paraíso humano.
(...)
E eu então fui para o emprego e trabalhei, e agora tenho algum dinheiro, e vou alugar uma casa decente, e o nosso filho há-de ser alguém na vida. E então a gente ama, porque isto é a verdadeira vida, palpita bestialmente ali, isto é que é a realidade, e todos juntos, e abaixo a exploração do homem pelo homem. E era intolerável.
(...)
E as crianças cresceram todas, e andavam de um lado para outro, e iam fazendo pela vida — como elas próprias diziam. E então as condições sociais? Sim, melhoraram bastante. Mas uma delas começou a beber, e depois o coração estoirou, e ficou apenas para os outros uma memória incómoda. Parece que sim, que tinha demasiada imaginação, e levaram-na ao médico e ele disse: aguente-se, e ela não se aguentou. Era uma criança. Não, não, nessa altura já tinha crescido, bebia pelo menos um litro de brandy por dia. Nada mau, para uma antiga criança. A verdade é que era uma criança, e não se aguentou quando o médico disse: aguente-se. 

Saturday 7 June 2008

cena para o final de um terceiro acto

poema de Mário Cesariny em "Manual de Prestidigitação"

Uma esquina outra esquina
depois os breves canteiros floridos
de quando a cidade era pequenina

depois os longos rochedos brutais
a lua o mar eterno o cais

Friday 6 June 2008

Kiss the wind























Coxo's favorite band, The Waterboys, have recently released an exclusively on-line collection of unissued and rare music compiled by Mike Scott from material in the Waterboys sound archives.

These 16 songs were recorded between 1991 and 2006, spanning the Room To Roam, Dream Harder, Rock In The Weary Land and Universal Hall eras. You can listen to some samples here.


Wednesday 4 June 2008

Art 39

The Other, Ján Mančuška, 2007, taken from Art 39 Basel
(I asked my wife to blacken all parts of my body I cannot see)






















A friend just tipped me about a not-to-miss international art show taking place this week in Basel. It is the Art 39 Basel, the world's premier international art show for Modern and contemporary works.

More than 2000 artists from around the world are represented. The New York times and Le Monde, have described with words such as as «Olympics of the Art World.» and «La meilleure foire du monde».

It will be on exhibition from the 4/6 to 8/6 (11a.m. to 7p.m.) and you can get your tickets online on their website.

Thursday 29 May 2008

The only way up


Wednesday 28 May 2008

Tuesday 27 May 2008

Inscription

Poem by Sophia de Mello Breyner Andresen, translated by Rui Cascais Parada

When I die I shall return to fetch back

The instants I didn't live by the sea.

Thursday 22 May 2008

Same same

Líbia, deserto do Sahara, a sul do Jbel Akakus.

- Today hot. Same same yesterday. - queixa-se o nosso guia, Hussein

Estão quarenta e dois graus à sombra da acácia que estou prestes a fotografar. Sete corpos jazem inertes à volta do tronco ressequido. Tiro a foto: Uma árvore, um poço quase seco, os corpos adormecidos mergulhados na languidez estival, e os jipes, também eles exaustos.

















Poderia dizer-vos que dormiam derrotados pelo sentimento avassalador de impotência perante a vastidão da paisagem, ou dominados pela força subjugadora do céu que se abate sobre as planícies inóspitas da Hamada. Mas não... quem os derrotou foram as moscas !

É sabido que a mosca é um bicho que pode ser particularmente enervante. Ora a mosca do deserto, ávida de companhia, teve todo o tempo de aperfeiçoar a sua arte e fê-lo de tal forma que apenas uma dessas criaturas seria suficiente para arrancar os mais vis impropérios da boca do Dalai Lama.

E assim começou a noite no Wadi Tashwinat : a esbracejar.

Rapidamente aprendemos que a mosca do deserto só é vencida pelo vento do deserto. Mas o vento do deserto não viaja normalmente sozinho: com ele vem a areia do deserto. Muita. E fina. Daquela que fica colada aos dentes. Daquela que trespassa a carne. Entrincheirados nos sacos cama, resistimos como pudémos.

Daqui se tira as primeiras lições: o deserto não se compadece com clichés. A expressão "os grandes espaços vazios" não se aplica certamente às moscas e dormir ao relento nem sempre se reveste do romantismo descrito na literatura.

Mas voltemos atrás: nos dias anteriores tinhámos começado a descobrir o Sahara...

Vindos de Ghadames, a nossa pele ainda respirava a brisa que soprava nas estreitas galerias da medina. Ainda vagueávamos sem destino nessa cidade de um branco impossível. Cidade de sonhos, aqui e ali despertados por uma bicicleta que passa veloz, ou por um som indistinto de passos que dobram uma esquina.

















Mas a Hamada que rodeia Ghadames é outra coisa. Imutável. Igual. De uma monotonia hipnotizante. Planície, horizonte e céu. Ali, até os camelos se aborrecem.

Quando finalmente chegamos a Sebha, à porta do deserto, um desacordo sobre questões burocráticas atrasou a nossa partida. Azdin, o nosso contacto local, desdobrava-se em telefonemas, explicações, cedências, intrasigências, ingerências, enfim, a panóplia habitual de negociações a que já me habituaram os meus interlocutores nesta região do mundo e à qual me entrego com verdadeiro empenho.

Depois, quase sem darmos conta, era outro dia. Estávamos no Sahara. Envolvia-nos um grande nada branco sem horizontes nem céu. Apenas uma luz macilenta que ia dissolvendo as formas. O dia foi passado perseguindo um horizonte impossível. Não tiro fotos. É impossível tirar fotos.

E de repente as dunas. Dunas imensas de areia dourada como nos sonhos. Descalços, humildes perante os gigantes de areia moldados pelo vento, subimos até que o folêgo nos faltasse. Do cimo, as arestas serpenteavam em todas as direcções, caindo sobre o acampamento onde Abdu Arrahman já preparava o chá.

















No dia seguinte rumámos ao Akakus. Os carros em resmunguices de fumo e ruídos metálicos, os corpos relutantes a beber ânimo da luz intensa do dia. Nos fins de tarde testemunhámos a capitulação do dia, devorado pelas sombras que descem das encostas, enquanto em nós crescia esse sentimento de plenitude que se alimenta das coisas belas.

















À noite escutávam-se as histórias de Hussein, numa mistura de línguas que tornava a narrativa bem mais divertida:

- Alain, turist, had GPS. Hussein no GPS, only testa. GPS Alain no good !

Em Ghat, onde tomaríamos a estrada de asfalto que nos conduziria à entrada das dunas de Idehan Ubari, o vento vindo da Argélia soprava forte e ia juntando areia às nuvens já espessas. À medida que a tempestade de areia ganhava corpo, Hussein inquietava-se.

Ao chegar a Tekerkiba, com os dois jipes face às dunas e a tempestade ameaçadora no horizonte, alguém fraquejou:

- c'est fou, c'est fou ça !

Era o cozinheiro que acordava do seu sono perene.

(ainda não vos tinha falado do cozinheiro, Hassan. Rapaz franzino, de palavra poupada e sono fácil)

Na hesitação da partida, no momento em que alguém concluía ser prudente desistir, um terceiro jipe passa por nós a toda a mecha. Foi o que Abdu Arrahman esperava para quebrar o impasse: antes que eu pudesse dizer "otorrinolaringologista", já desbravávamos as dunas em direcção ao oásis de Mandara, inspirados pela ousadia do carro que acabava de passar.

















Progredíamos nas dunas, os motoristas manobrando os volantes com destreza, quando o jipe de Abdu Arrahman deu mostras de alguma indignação pelas condições de trabalho. Tudo começou por um "clac". Quando demos conta já era um "clac, clac, clac". Ora qualquer mecânico de pacotilha sabe as graves implicações de um "clac, clac, clac". No meios dos "clings", "criiis" e "puffs", um "clac" não passa despercebido. O caso era grave.

De súbito, quando parecia certo que atrás de uma duna só poderia haver outras dunas, fomos surpreendidos por uma visão para a qual nem as mais elaboradas expectativas nos tinham preparado: o oásis do lago de Mandara. Detive-me um momento face à paisagem, numa tentativa de assimilar tudo aquilo antes de o perder na memória.

Alguns quilómetros mais à frente, o lago de Umm Al Maa. Ainda mais surreal. Uma faixa estreita de água salgada em reflexos de palmeiras, com dunas precipitando-se sobre as margens. Perfeito como uma miragem.

















De manhã a moral era alta para alcançar o último objectivo da viagem: o lago de Gebraoun. Mas alguém se tinha esquecido do famoso "clac" do dia anterior. Alguém menos o próprio. E assim se morre à beira da praia. O carro de Abdu Arrahman já não poderia continuar muito mais.

- Máquina... no good. - sentenciou Hussein.

Regressámos a Sebha onde tomaríamos o avião para Tripoli. Nas despedidas prometemos voltar um dia para descobrir o último lago.

Mas na realidade se voltasse não seria pelo lago. Seria antes para me sentar junto à fogueira de Abdu Arrahman ouvindo as histórias de Hussein no seu Inglês de improviso. Porque, como ele dizia frequentemente:

- Hussein many friends... and friends same same família !

Monday 28 April 2008

Estrelas às franjas

texto de: O Coxo

Vai, vai que a noite já chora e o caminho fraqueja à tua espera. Não hesites, vai. Leva o teu sorriso moldado em água.

Não olhes para trás, ainda te vejo para cá da porta entreaberta: os passos hesitantes na denúncia da sombra.

Ou melhor: uma silhueta de estrelas às franjas oscilando ao sabor da porta e do vento.

Ora te vejo
Ora não
Ora te vejo
Ora não

Volta. Volta que a noite já tarda e não consigo dormir.

Friday 25 April 2008

A pele molhada

poema de Eugénio de Andrade

É na escura folhagem do sono
que brilha
a pele molhada,
a difícil floração da língua.

Thursday 24 April 2008

Feel like dancing ?














This sunday, DANSETANZDANZA organises free dance courses, accessible to everyone in the scope of the STEPS dance festival . The event will take place in BÂTIMENT DES FORCES MOTRICES, 27 april 19h00.

The Choreographers are: Winship Coly, David Zagari, Guilherme Botelho

On the program there is contemporary dance, ballet, hip hop, oriental dance, Flamenco, Tango, Salsa, modern jazz or improvisation…

Tuesday 22 April 2008

Street art

pictures taken somewhere in Geneva

























Thursday 17 April 2008

Alquimia dos aglomerados urbanos

texto de: O Coxo

Numa cidade tem que haver granito. Tem que haver esse rumor quase imperceptível da pedra ancestral. Tem que haver homens que caminhem descalços sobre matéria inerte. Tem que haver comunhão da carne com o elemento como na transmutação dos corpos.

(na alquimia se urdem as mais intricadas aspirações de um citadino).

E no entanto tudo é tão simples de explicar como o restolhar das águas numa manhã fria de Outono à beira rio.

Numa cidade tem que haver pontes. Tem que haver uma árvore que contenha uma inscrição enigmática sobre o amor. Tem que haver jornais abertos sobre um banco de jardim.

E no entanto no café matinal só se lêem as letras gordas.

Uma cidade tem corpos diáfanos que desfilam na rua em trajectórias quase paralelas, que roçam as paredes numa sensualidade geológica. Corpos rudemente lapidados.

E no entanto uma cidade de pedra é feita de amores sedimentares.

Wednesday 16 April 2008

Tarde ferida

Poema de Eugénio de Andrade em "Coração do dia"

Que mar a pique
Ou luz,
ausente e quente,
na boca tão intensa
que fere a tarde?

Tuesday 15 April 2008

Amanhã e depois

texto de: O Coxo

Afligi-me ter que escrever. Passei pela vida como um fugitivo e agora afligi-me resumir tudo isso num desfilar de frases com sentido. Não quero que faça sentido. Porque é que há-de fazer sentido.

Entretanto gostava de ter uma cadeira de baloiço. O crepitar da madeira a ritmar a oscilação sustentada enquanto me decido a escrever. Um vizinho louco no andar de baixo
- a maldita cadeira do velho !

e a minha mão a desfilar pelo papel em tremeliques de
- maldito velho, maldita cadeira ! pare lá com isso homem !

a minha mão tão enrugada, as veias salientes dum verde carregado.

As veias salientes já mais fora da pele do que dentro, como se o sangue já não estivesse confortável neste corpo cansado.

Para quê escrever se amanhã a morte e depois nem o verde das veias, nem o vizinho a gritar nem o crepitar da cadeira com o qual às vezes adormeço na sala de estar, de caneta na mão e um papel em branco em cima da mesa.

Wednesday 9 April 2008

Cully Jazz






















Fortunately the music festival scene around Geneva is much hoter than the weather. One of the festivals with great ambiance, beautiful location and a nice OFF program is the Cully Jazz Festival. The festival is on-going and it is a good plan for the weekend.

Thursday 3 April 2008

Le dernier printemps du Galpon






















The last season for Artamis squat. Le Galpon is organizing their last festival, inviting more than a hundred artists that have performed there in the last 12 years.

If, as me, you think that Geneva is losing one of its most vibrant alternative culture venues, then let us profit from it until the very last minute. Because after Artamis is gone, Geneva will have lost most of what was left of its carisma and only USINE can stand to the challenge of being the last remain of irreverence in this city.

Monday 31 March 2008

Fotos do Fogo

Sérgio Godinho, em "Tinta Permanente"

Eu nesta não fiquei bem,
estou a olhar para o lado.
Tinham-me dito: "eh soldado!
É dia de incendiar aldeias,
baralha e volta a dar
o que tiveres de ideias
e tudo o que arder, queimar!"
No fogo assim te estreias.

Chega-te a mim, mais perto da lareira,
vou-te contar a história verdadeira...

Nesta outra foto,
não vou dar descanso aos teus olhos
não se distinguem os detalhes
mas nota o meu olhar,
cintila atrás da cor do sangue
vou seguindo em fila
e atrás da cor do sangue
soldado não vacila

O meu baptismo de fogo
não se vê nestas fotos
tudo tremeu e os terramotos
costumam desfocar as formas
matamos, chacinamos, violamos,
ah, mas será que não violamos
as ordens e as normas?

Chega-te a mim, mais perto da lareira,
vou-te contar a história verdadeira...

Thursday 27 March 2008

Midday

Sophia de Mello Breyner Andresen in "shores, horizons, voyages", translated from portuguese by Rui Cascais Parada

Midday. A corner of empty beach.
The sun upon high, deep, huge, open,
Cleared the sky of any god.
Light falls implacable as a punishment.
There are no ghosts or souls,
And the sea immense, solitary and ancient,
Seems to applaud.

Wednesday 26 March 2008

Paléo festival 2008

As usual, it is impossible to keep a secret for long and the program for the Paléo festival 2008 is no exception. The official date for the release of the program was 10 of April but the emails started circulating this week and they got to my mailbox today.

Don't know how sure this is... but anyway you can start planning you Paléo week:

(click on the image)

Thursday 20 March 2008

Natureza morta

texto de: O Coxo

Se calhar nem todos estavam a contar com a debandada dos horizontes. Abriu-se um escoadouro ao fundo, na intercepção das linhas de fuga, e toda a paisagem escorreu por ali abaixo. Fluida, fluida, foi descendo até às árvores e sumiu-se por detrás das copas. Foi sol foi tudo.

Como é que eu sei isto ? pois bem, tudo isto se passou dentro da minha cabeça. Portanto é imensamente real.

As coisas existem com um peso brutal. Mesmo se todos os objectos são imaginados, têm no entanto um peso brutal. Um arquétipo duma árvore é ainda mais pesado que a instância da árvore porque carrega com ele o peso do subconsciente colectivo. Não sou eu que o digo, é Jung.

Bom, de qualquer modo é preciso esperar. É preciso esperar que as coisas retomem o seu lugar e forma. Entretanto pode ser que seja primavera e a paisagem volte com mais cor.

Techno for the easter bunny






















If you are staying in Geneva for easter, you have a reason to be desperate.

Fortunately, not everything is lost, the Electron festival is around to shake things up...

The festival is organized by USINE and it is back for its 5th edition during the easter weekend. International and local artists get together during four days to celebrate all styles, from electro, drum’n’bass, minimal, electrodark, hip-hop, experimental, electro jazz, goa, electro-rock, dub, breakbeat, dubstep, techno…

Monday 17 March 2008

CERN open day
















For the first and last time before the start-up of the LHC, CERN is inviting the public to go underground to visit the LHC. For those of you who have not already visited the LHC, this will be the last opportunity to see the world’s most powerful particle accelerator (27 km in circumference) before it goes into service during 2008.

The LHC will accelerate minute particles and collide them at the centre of four large detectors, ALICE, ATLAS, CMS and LHCb. This unique world-leading scientific tool will be visible at most of the access points in the Pays de Gex and Meyrin, nearby Geneva.

The event will take place on the Saturday 5 April for all members of the CERN personnel and their families, and on the Sunday 6 April for the general public.

http://lhc2008.web.cern.ch/LHC2008/

Friday 14 March 2008

very short agenda for a Geneva weekend

<Saturday> <14h> Hagiohygiecynicism exposition @ MAMCO <16h15> Uganda Rising - cinema of human rights @ FIFDH <18h> a glass of wine and a book @ Grutli <20h> get some sushi @ Misuji <22h> start the night @ Calamar <24h> fall in love with Luluxpo @ NoComment <Sunday><12h> Brunch and book @ CALM, Carouge <15h> stop feeling In Security @ MICR <18h> burn some calories inside a squash court

Thursday 6 March 2008

FIFDH























La 6e édition du Festival international sur les droits humains aura lieu du 7 au 16 mars à Genève.

Une quarantaine de projections (grands reportages, documentaires, mais aussi quelques fictions) liées aux problématiques des violations des droits humains servent de points de départ à des discussions avec des invités souvent prestigieux.

As lagartixas e as crianças

Herberto Helder em "Photomaton & Vox"

As lagartixas vivem cercadas pelas crianças. Delas esperam tudo: o alimento e a morte. (...)

Mas as crianças pagam os direitos do poder. Sujeitam a atenção: a fisionomia do seu mundo tem que adaptar-se a certas leis profundas dos bichos. Armam-se então de uma grande paciência animal, uma secreta humildade para com as forças que demarcam e condicionam o teor das suas próprias regras.

Todas estas regras se elaboram e exercem na inspiração do terrível, mas o terrível possui a sua doçura oblíqua, uma lírica sumptuosidade, uma exaltação muito pura. As crianças amam as lagartixas com uma crueldade cheia de paciência e pormenorizado arrebatamento. (...)

A crueldade inventa sem parar. Aperfeiçoa instrumentos e métodos num estilo cada vez mais cerrado, límpido, tenebroso. Um estilo de propósitos severos, quase místicos.


Monday 25 February 2008

Akáki Akákievitch

À semelhança de Akáki na novela "O Capote", Gógol também foi funcionário. Quando veio da Ucrânia para São Petersburgo, Nikolai Gógol trabalhou para um ministério.

Não sei em que departamento. Como diria o próprio:

"No departamento de... não, é melhor não revelarmos em que departamento. Não há nada mais susceptível do que todos esses departamentos, regimentos, escritórios, em suma, do que toda essa espécie burocrática."

Quando o Coxo começou a ler esta novela, que faz parte do que alguns autores chamam o "ciclo petersburguense", cheirou-lhe logo ao universo Kafkiano de "O Processo".

Akáki é o anti-herói por excelência. E o Coxo não pode deixar de simpatizar com este funcionário que "não se pode dizer que fosse digno de nota: baixa estatura, o seu tanto bexigoso, a dar para o arruivado, de aparência, até, um pouco míope, uma pequena calvície na fronte, rugas em ambas as faces e uma dessas cores de tez a que chamam de hemorroidal..."

Em suma, um desses personagens que às vezes vemos nas repartições de finanças escondido por trás de uma pilha de livros, e do qual só conhecemos o carimbo no papel devido.

Esperam-me agora os outros quatro livros do mesmo ciclo: "O Nariz", "Diário de um Louco", "Avenida Névski" e "O Retrato".

Friday 22 February 2008

Inscrição

Poema de Camilo Pessanha

Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
Oh ! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...

Tuesday 19 February 2008

Les Temps Modernes

















Lausanne accueille jeudi 21 un événement exceptionnel: l'accompagnement en direct par l'Orchestre de la Suisse romande de la projection du célèbre film de Chaplin Les temps modernes.

La première des Temps modernes a lieu à New York en février 1936. C'est la dernière apparition à l'écran du personnage de Charlot. Charlie Chaplin développe dans ce film ses réflexions: «Le chômage, voilà la question essentielle. Les machines devraient faire le bien de l'humanité, au lieu de lui apporter tragédie et chômage», déclarait-il en 1931. A la sortie du film, où Charlot campe un ouvrier qui devient fou au milieu des machines, cela fait près de dix ans que le cinéma parlant existe, mais Chaplin reste fidèle au muet, écrivant lui-même la musique.

Ciné concert Les Temps modernes au Théâtre de Beaulieu par l'Orchestre de la Suisse romande , Lausanne, jeudi à 20 h 15.

Sunday 17 February 2008

Street Art from Banksy

It is not the first time I show a work from Banksy in this blog. But I come back to him because it is just amasing to see the range of works he has produced in different projects.

Weburbanist has a nice article on him and on his site you can find more examples of his work.

















Thursday 14 February 2008

Entroncamento

texto de: O Coxo

Um rapaz chega a um entroncamento. O público grita por trás:

- À esquerda, à esquerda !
- Em frente, em frente !

No embaraço da escolha o rapaz cava um túnel e nunca mais é visto.

Rumores sugerem que foi viver para os antípodas.
Construíu casa numa rotunda e no quintal plantou malmequeres.

Wednesday 13 February 2008

Claustrofobia

texto de: O Coxo

A vida interior é inóspita. Não gosto de me demorar muito por lá, sabes?

Todas as coisas são tremendas. Um candelabro que balança para lá e para cá num movimento hipnótico pode conduzir-te à morte.

Prefiro a vida cá fora. Fora dos olhos quero dizer. Nunca fui um asceta, a austeridade assusta-me. Vivo na tangência da pele ferozmente arrancada pelo atrito da fuga.

O tempo é atroz, o amor é pungente. É preciso habitar a experiência, glorificar o instante pródigo, arrancar mais pele na fuga e sobretudo não olhar para dentro. Toda a racionalidade é abominável e conduz à loucura.

Ou então tudo isto é assombro. Talvez tenha medo de escadas sem fim e nada de portas, nada de janelas, escadas em espiral até ao infinito e onde está a felicidade merda ? como é que saio daqui ?

Já passeaste dentro de ti ? não me refiro à espiritualidade nem à metafísica, quero saber se já te passeaste por veredas interiores ladeadas de arbustos. Quero saber se já te passeaste por amplos jardins que terminam em horizontes ambíguos. Quero saber se já te perdeste nessa névoa macilenta que dissolve todas as formas.

E no entanto quando fecho os olhos só escadas. Fecho os olhos e escadas sem fim.

Toda a vida interior é absurda.

Rotina

texto de: O Coxo

É assim: parte-se de manhã e o sol até parece uma estrela viva em que fusões nucleares e assim. Mas não. Na brutalidade da luz matinal constroí-se o equívoco. E enquanto luto para tirar a maldita geada do vidro do carro tenho medo desses oito minutos.

Conduzo por instinto. Não vejo o carro que vem da esquerda e a luz mais forte ainda. Oito minutos volvidos. Hidrogénio em Hélio e fotões aos montes.

Vozes à minha volta e a luz forte que vem do tecto.

Tecto ?

Tenho sono (como todos os dias de manhã temos sono). Vozes à minha volta de cara tapada e bata branca. Estou deitado.

- passa-me o bisturi

Mais sol e oito minutos sem saber se haverá carros da esquerda. O sol com uma cor mais branca e por cima um tecto.

Um tecto ?

De certeza que estou atrasado. Da rotunda ao escritório cinco minutos e agora o carro da esquerda e eu aqui deitado a olhar o sol.

O sol ?

eu aqui deitado a olhar a luz pendurada do tecto. A olhar a luz pendurada do tecto e as enfermeiras

enfermeiras ?

as enfermeiras agitadissimas. Uma azáfama de hospital como se alguém

eu ?

como se alguém estivesse atrasado para o trabalho porque na rotunda a geada, o vidro, o carro da esquerda, o rádio que falava de baixas pressões, o homem de bicicleta que todos os dias me cruzo com ele, a farmácia ainda fechada, o buraco na estrada (o buraco que outro dia esqueci e o pneu furado), o ruído de travagem.

É assim: Parte-se de manhã já atrasado. A luz do sol dá-nos oito minutos de vida e a malha do destino fecha-se à nossa volta. Depois uma linha direita numa máquina que lê corações e no final mais luz. Dizem que um túnel.

Não sei se um túnel, mas parece-me que hoje não vou chegar a horas ao trabalho.

Friday 8 February 2008

...et nous reparlerons des gentilshommes de fortune




"... tu savais qu'une tzigane m'a dit que lorsque je mourrai tous ceux qui seront autour de moi mourront aussi ?"

Thursday 31 January 2008

Chefchaouen blues

Chefchaouen, Marrocos, 2005

Wednesday 30 January 2008

Coitado do Álvaro de Campos

Excerto de poema de Álvaro de Campos

Que bom poder-me revoltar num comício dentro da minha alma !
Mas até nem parvo sou !
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.

Não me queiram converter a convicção: sou lúcido.
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda ! Sou lúcido.

Monday 28 January 2008

Os Nomes

Eugénio de Andrade em "Os sulcos da Sede"

Há um tempo em que damos estranhos
nomes às coisas.
Por exemplo, fulgor; por exemplo,
mundo; por exemplo, desejo.
Nomes novos, como na infância
a neve.
Um dia acordas, tens treze,
catorze anos, descobres que estás nú
e tens ao lado outro corpo
também despido e menos inocente.
Ao teu ouvido, conivente com a luz
matinal das laranjeiras,
chega um rumor de sílabas roucas
húmidas de desejo.
Como noutros dias, de ramo em ramo,
a neve.

Wednesday 23 January 2008

Black Movie Festival













A success on the rise, the Black movie festival in Geneva has just published its programme for 2008. The festival takes place in Grutli, Spoutnik, Bio and Scala cinemas in Geneva, from the 1-10 of February. In these 10 days, you will have the opportunity to get to know emergent and confirmed talents from the cinema in Asia, Africa and Latin America.

Check the website for details on the programme:

http://www.blackmovie.ch/

Tuesday 22 January 2008

Sweeney Todd

O Coxo recomenda,















Stephen Sondheim / Opéra de Poche / m.e.s. Alain Perroux
Théâtre du Loup - GENEVE
Du 12 au 27 janvier 2OO8

Stephen Sondheim est un des grands auteurs compositeur de comédie musicale encore vivant. Le personnage de Sweeney Todd est inspiré d’un fait divers ayant eu lieu en 1784. Un barbier aurait tué environ 160 personnes, avant d’être pendu.

L’interprétation des personnages est tenue par l’Opéra de Poche, actif depuis seize ans. Philippe Cantor interprète avec charisme le barbier Sweeney Todd. Une comédie musicale, pleine de noirceur…


Sunday 20 January 2008

A vida fictícia

Excertos do livro "Húmus" de Raul Brandão

As paixões dormem, o riso postiço criou cama, as mãos habituaram-se a fazer todos os dias os mesmos gestos. A mesma teia pegajosa envolve e neutraliza, e só um ruído sobreleva, o da morte que tem diante de si o tempo ilimitado para roer. (...)

Todos os dias dizemos as mesmas palavras, cumprimentamos com o mesmo sorriso e fazemos as mesmas mesuras. Petrificam-se os hábitos lentamente acumulados. O tempo mói: mói a ambição e o fel e torna as figuras grotescas. (...)

A vida é fictícia, as palavras perderam a realidade. E no entanto esta vida fictícia é a única que podemos suportar. Estamos aqui como peixes num aquário. E sentindo que há outra vida ao nosso lado, vamos até à cova sem dar por ela. E não só esta vida monstruosa e grotesca é a única que podemos viver, como é a única que defendemos com desespero. (...)

Estamos aqui todos à espera da morte ! estamos aqui todos à espera da morte ! (...)

Friday 18 January 2008

Underground dream

texto de: O Coxo

15h35

Estou algures em França, cem metros abaixo da superficie.

Há uma claridade indistinta como num sonho. Estou sozinho. Luzinhas piscam num painel à minha frente. E o ruído. Muito ruído. Ah, além disso estão trinta graus (uma avaria na ventilação disseram-me).

Um homem sozinho cem metros debaixo de terra mergulha dentro de si mesmo. Mergulha inevitavelmente dentro de si mesmo. A alma deixa de ser uma barreira intransponível à medida que nos aproximamos do inferno.

(de certeza que há uma porta por aqui)

Começa assim: as luzinhas desatam a piscar no cruzamento de duas artérias, os medos vão crescendo no sangue e saem de mim numa efluência transparente. Há um anjo renegado que sente o odor lá do meio das suas chamas. Uma porta que não existia antes abre-se numa parede e sou convidado a entrar.

Hesito. Entrar numa porta não autorizada é uma falta profissional. Tudo uma questão de acessos. Verifico o meu cartão:

"acesso tunel, acesso galerias, acesso experiências".

Nada sobre portas inexistentes que conduzem

portas inexistentes que conduzem

Porra, entro na mesma, entro na mesma que se lixe.
Quando um homem mergulha dentro de si mesmo não pode hesitar: mergulha-se o mais rápido possível para não ficarmos presos nas entranhas. Se queremos chegar à alma há que colocar todo o peso da solidão em cima de nós para descer mais rápido.

Entretanto há um erro de leitura de corrente: "erro de leitura de corrente - teste interrompido".

Deve ser grave: as luzinhas deixaram de piscar.

Thursday 17 January 2008

L'oiseau du temps

Depois da aquisição do novo album da série de BD "La quête de l'oiseau du temps", o Coxo não pode deixar de recomendar vivamente esta continuação que se refere à época "Avant la Quête".

O argumento é de Le Tendre e de Loisel mas o desenhador desta vez é Mohamed Aouamri que sucede a Lidwine e a Loisel. A passagem de testemunho é perfeita e em nada se fica a perder. A fluidez do traço, a qualidade gráfica, a criatividade dos cenários continuam a marcar esta BD como sendo uma das mais fortes dos últimos anos no género fantástico.

(Crítica do site bdgest mais abaixo)






















L'attente entre deux tomes de La quête de l'oiseau du temps est devenue l'un des sujets de discussion les plus animés sur les forums. Supputations effrénées sur le prochain dessinateur, paris sur l'année de publication ou avis les plus farfelus sur de potentielles stratégies commerciales, tout est bon. On patiente comme on peut.

Evidemment, lors de la parution tant attendue, c'est la ruée vers les librairies, l'avide lecture et l'oubli total des rumeurs et des élucubrations. Le cinquième album, ou plutôt le premier d'Avant la quête, avait relancé l'attrait en relatant les prémices de l'histoire des héros de la série mythique de Loisel et Le Tendre. Ce "grimoire des dieux" ne bénéficie pas de cet état de grâce mais il n'en a plus besoin.

Tous les éléments fondateurs de ce qu'a été ou de ce que sera "la" quête, selon la position du lecteur, sont savamment distillés par les auteurs, sans aucun doute heureux de pouvoir créer l'origine de ceux qui feront l'épopée phénoménale que l'on connaît.

Cet album, et l'ensemble du cycle, dispose de l'atout majeur du double niveau de lecture, rendu possible par un scénario de base bien au-dessus de la moyenne actuelle dans le genre de l'héroïc fantasy, et par la chasse aux liens avec la série mère. Une alchimie réjouissante entre le passé et le présent.

( http://www.bdgest.com/critique_2576.html )