Monday 14 January 2008

O Estilo

Para o Coxo foi como uma espécie de revelação. Supor que este desconforto rente à pele, o remorso envergonhado que persiste, a auto comiseração, tudo isso resulta da frustração de não ter ainda descoberto um estilo.

Esta obssessão do Coxo em procurar uma unidade de acção, exacerbada pela incapacidade de resistir à sedução do imediato, ao prazer efémero, ao cliché barato, surge-me agora como uma evidência da necessidade absoluta de encontrar esse estilo.

"One thing is needful.— To 'give style' to one's character—a great and rare art! It is practiced by those who survey all the strengths and weaknesses of their nature and then fit them into an artistic plan until every one of them appears as art and reason and even weaknesses delight the eye. "

Nietzsche, "The Gay Science"

Curiosamente o tema é igualmente explorado num texto de Herberto Helder, que já anteriormente transcrevi:

"Há felizmente o estilo. Não calcula o que seja? Vejamos: o estilo é um modo subtil de transferir a confusão e violência da vida para o plano mental de uma unidade de significação. Faço-me entender? Não? Bem, não aguentamos a desordem estuporada da vida. E então pegamos nela, reduzimo-la a dois ou três tópicos que se equacionam. Depois, por meio de uma operação intelectual, dizemos que esses tópicos se encontram no tópico comum (...)"

"(...) é forçoso encontrar um estilo. Seria bom colocar grandes cartazes nas ruas, fazer avisos na televisão e nos cinemas. Procure o seu estilo, se não quer dar em pantanas."

O problema do Coxo é comover-se com facilidade: a experiência comove-o e a comoção transforma-se em acção desmultiplicada.

O Coxo por vezes dá em pantanas.

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